sábado, 15 de dezembro de 2007

Renovação Partidária

A Articulação de Esquerda e a Juventude


Ao longo dos tempos, a esquerda na América Latina e no mundo foi marcada por grandes ícones. Lideranças inquestionáveis capazes de captar toda uma geração em torno de seus nomes. A maioria dos militantes, de esquerda, tiveram ou tem referencia em Marx, Lênin, Guevara, Fidel, Trotsky, Stalin, Engels ou qualquer outro. Apesar de não fugirmos a regra, pois também nos referenciamos em muitos deles quando pensamos em organizações partidárias, nas estratégias e táticas de combate, acreditamos que é hora de escrever uma nova história na esquerda e na luta pelo socialismo no mundo que nos cerca!

Entendemos que muitos dos nossos problemas são frutos da falta de uma política de renovação e formação de novos quadros, estes que necessariamente, andam em novos caminhos e tem novos instrumentos de luta, vista a conjuntura do movimento social, dos partidos da esquerda organizada e de toda a transição que a esquerda vive depois do fim da antiga URSS, da queda do muro de Berlim e das sucessivas batalhas que a história vive rumo no choque de classes.

O debate sobre a juventude e o PT deve ir muito além da mera definição de táticas para atrair os jovens para o partido. É uma discussão que deve abordar, diferentemente, que tipo de relação o partido estabelece com os jovens nele filiados e como esta juventude deve ser compreendida.

Lutamos por um PT socialista, concebido como um ente político que formula e apresenta propostas para a sociedade. Por um partido que opere na cultura política nacional uma disputa de hegemonia, entendida como meio democrático para a construção de um futuro socialista. Enfim, o PT é, na sua práxis política, um partido educador, mas com a clareza dialética de que o educador também é educado, como sugeriu Marx na sua terceira Tese sobre Feuerbach. A juventude, por sua vez, tem uma importância estratégica na construção de um partido popular e socialista como o PT, assim como tem e teve, historicamente, para os demais partidos revolucionários. Num comentário sobre a Revolução Russa, Trotsky disse o seguinte: “O bolchevismo, na ilegalidade, foi sempre o partido dos jovens operários. Os mencheviques apoiavam-se sobre os meios superiores e mais idosos da classe operária, não sem tirar disso certo orgulho e olhar do alto os bolcheviques. Os acontecimentos mostraram impiedosamente o erro que cometiam: no momento decisivo a juventude arrastou os homens amadurecidos e até os velhos”.

No Brasil isso também não é diferente. Nos anos 60 os jovens eram a vanguarda das lutas sociais e, mesmo a partir do final da década de 70, quando os trabalhadores ascenderam ao cenário político nacional pelo Novo Sindicalismo, os jovens não deixaram de ser a presença mais marcante em grandes mobilizações como as campanhas pelas Diretas Já!, de Lula Presidente e do Fora Collor. No entanto, isto não pode autorizar, eticamente, qualquer partido a desenvolver uma política instrumental para a juventude. Na Revolução Russa, em seu famoso Discurso para a juventude, pronunciado no III Congresso da União das Juventudes Comunistas da Rússia (em 02.out.1920), Lênin falou o tempo todo sobre as tarefas da juventude no processo de defesa da revolução.

No Brasil, vivemos sérios problemas pela condução de uma política personificada no PT. Vemos que nossa principal figura pública (LULA) muitas vezes transpõe o projeto do partido, pois muitas das vezes ele está além de nossa organização coletiva, de nossas bandeiras históricas, de nossas reivindicações e de toda nossa construção ideológica, muitas vezes pela chamada “governabilidade”, outras pela ausência da consolidação de um Partido firme em seu programa e ainda pela própria conduta de nossa figura pública, que normalmente se coloca como mais importante do que toda essa construção dos milhares de companheiros que o construíram para tal!

Nós, jovens da Articulação de Esquerda, nos consideramos privilegiados, pois temos a oportunidade ímpar, de viver a geração que conviveu com os fundadores do PT, com os companheiros que idealizaram toda nossa luta e toda nossa organização que hoje se traduz no maior partido de esquerda da América Latina. Mais do que isso, somos a primeira geração capaz de reproduzir o sentimento jovem e libertador que construiu tudo isso e ainda luta pelo socialismo nesses vinte e sete anos de Partido dos Trabalhadores.

No Espírito Santo as coisas não são diferentes, todo o militante da esquerda organizada e dos movimentos sociais, tem referencia na história da nossa grande companheira Iriny Lopes, do aguerrido Cláudio Vereza, do corajoso Otavio Baiôco, na conduta de Ana Rita, na destreza de Tião Erculino e nos tantos outros que construíram essa história que queremos levar adiante.

Acreditamos na política pela qual fizemos opção, acreditamos no projeto democrático e popular que estamos construindo junto à esquerda e ao movimento social capixaba em contraposição ao governo neoliberal capitaneado por Paulo Hartung e seus aliados. Temos plena convicção que o PT deve ser livre, independente e organizado a partir da classe trabalhadora e não a partir de gabinetes de governos que não tem compromisso com a classe pela qual nos propomos a nos organizar.

Entendemos que é hora de renovar, de colocar novos atores no processo de condução deste partido, sem (nunca) abandonar os atores já existentes, mas agregando novos líderes, com todo respeito aos que estão nessa batalha há mais tempo, mas com todas as novas especificidades que trazemos conosco pela luta social que vivemos e pelo sentimento libertário que carregamos enquanto jovens revolucionários.

Hoje o PT em sua executiva não tem nenhum jovem, poucos são os municípios que tem em suas direções partidárias, um jovem que tenha como pauta a política da juventude, as políticas dos que mais sofrem com o desemprego, dos que mais lutam por um Brasil melhor, dos que mais amam a política, dos que se organizam nos diretórios acadêmicos, nas associações de moradores, nos sindicatos e nas rodas de conversas sem maiores pretensões. Daqueles que tem a perspectiva revolucionária de mudar o mundo, de fazer dessa política chata e monótona uma ferramenta transformadora de mentes e de mundos. Queremos fazer do PT um espaço colorido para que nossos sonhos se tornem realidade e para que o socialismo possa ter condições materiais de existência.

Estamos entre aqueles que acham que nossa corrente deve ser pioneira nesse debate, devemos reafirmar o discurso de nossas lideranças que repetem incessantemente o debate da renovação e oxigenação do partido, queremos apresentar novos nomes e semear primaveras revolucionárias. Temos confiança em nossos líderes, mas entendemos que é hora destes líderes começarem a nos preparar para traçar um novo episódio na história socialista desta corrente! Se vamos vencer, só o futuro pode dizer, mas com certeza não abriremos mão da luta.
Talvez pensemos grande, mas maior do que nossos pensamentos e nossas reivindicações são nossos sonhos de mudar o mundo e nossa vontade de fazer por onde! Estaremos juntos nessa luta, somos a Juventude da Articulação de Esquerda ousando lutar, pra construir o poder popular e um mundo mais rebelde, a fim de construir o socialismo nas mentes e no mundo!



“Os velhos se apaziguam; os jovens se revoltam (independente da variável ideológica) porque sabem, ou sentem como disse Wilhelm Reich, que têm o seu futuro à sua frente, enquanto os velhos o têm às suas costas. O hiato entre o partido e a juventude, caso não resolvido, o fará marchar em direção ao passado, pois a contradição desse abismo se reconciliará na síntese da senilidade política.”
(Paulo Denisar Fraga)

Nenhum comentário: